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Ninfomaníaca Vol. I e II (2013) | O castigo de Lars von Trier à moral e bons costumes

O diretor Lars von Trier, já conhecido por suas polêmicas, críticas e, por que não, agressões à sociedade e seus dogmas, consegue, com maestria, cuspir na cara dos valores morais que há tanto tempo permeiam a vida das pessoas. O título polêmico e atraente, “Ninfomaníaca” foi criado para seduzir o espectador, mas o objetivo da obra por trás dele não é excitar.

Ninfomaníaca um filme que discute sobre sexo, usando o sexo.

Ninfomaníaca vol. I

Ninfomaníaca

Joe, a protagonista ninfomaníaca da obra, é encontrada jogada no meio da rua por Seligman, que a acolhe em sua casa. Após uma xícara de chá com leite, mergulhamos no mundo de Joe, que conta a história de sua vida de forma nua e crua.

Logo nos primeiros momentos, qualquer ser humano que não tenha a mente aberta e encare o sexo como um tabu, entrará em choque. Von Trier nos introduz a um dos temas dos quais Ninfomaníaca se trata: a banalização do sexo. Quando uma garota virgem não se importa com a virgindade, mas sim, em livrar-se dela. Quando essa mesma garota vê homens como presas e sai à sua caça. Quando essa garota de ar angelical se delicia nos braços de diversos parceiros, os quais são nada mais que meros fornecedores de prazer. Sem amor e sem paixão, só satisfação sexual. Enquanto relata suas aventuras ao novo amigo, Joe demonstra o ódio que sente de si mesma e todos nós, espectadores, compreendemos esse ódio.

Ora, não somos criados para reprimir nossa sexualidade, procurar um amor, formar uma família, arrumar um bom emprego, se aposentar e morrer? Como poderíamos encarar com normalidade uma garota que não se importa com nenhum desses valores, mas só com si mesma e sua própria boceta?

Ah, se você não se sentir a vontade com palavras como boceta, pau, cu, foda e afins, esse filme não é para você.

A história cospe na cara de quem procurou, nela, um pornô. Imagino a decepção do público que foi seduzido pelo nome atrativo do filme e esperava sexo explícito o tempo todo, quando recebeu a mensagem que Lars von Trier enviou. O volume I de Ninfomaníaca é uma grande aula sobre a banalização do sexo, repleta de metáforas, desmistificações e corpos suados.

Ninfomaníaca vol. II

Ninfomaníaca

A sequência continua exatamente do momento onde parou. Estamos com Joe e Seligman, na casa dele, ainda conhecendo a história de Joe. Se antes a ninfomania parecia divertida, cheia de situações inusitadas e aventuras, agora, sua vida caiu em desgraça. Se antes aprendemos que o sexo é algo natural e temos vários tabus derrubados, agora seremos castigados pela nossa hipocrisia. Enquanto garota, Joe conseguiu se divertir, mas como mulher, a sociedade quer que ela sangre.

Nossos valores batem em Joe, e Lars von Trier bate na gente.

Inevitavelmente, Joe tenta se encaixar no que é imposto para ela como normal: um casamento monogâmico, a maternidade e o emprego. É então que a ninfomaníaca perde a capacidade de sentir prazer. Em um primeiro momento, é possível pensar que possa ser alguma enfermidade, mas a verdade é que ser aceita pelos padrões sociais custa caro, dói, deprime e mutila. Agora, vamos ter de engolir nossas hipocrisias sociais.

Poligamia, homossexualidade, sadomasoquismo, racismo, e violência. Tudo misturado e jogado em nossas faces. No volume II, é possível perceber o quanto von Trier foi gentil no volume I, e teremos de aceitar que somos os culpados pelo sofrimento de Joe e de todas as mulheres cuja sexualidade é oprimida desde os tempos mais primórdios da humanidade.

Toda mulher deveria assistir Ninfomaníaca, pois aprenderia muito sobre si mesma e, talvez, se julgaria menos. Todo homem deveria assistir Ninfomaníaca, pois aprenderia sobre a sexualidade feminina e, talvez, deixaria para trás certos dogmas que já nascem com cada um. Todo padre, todo pastor, todo político, toda freira, toda mãe de família, todas as pessoas deveriam assistir Ninfomaníaca e aprender as lições que Lars von Trier tem para ensinar sobre o grande tabu social que é o prazer, principalmente para mulheres.

Àqueles que julgam e condenam mulheres que se entregam à sua sexualidade, Ninfomaníaca será um filme didático. Àqueles que entendem que o ser humano, independentemente do gênero, possui desejos e o direito de saciá-los sem sofrer julgamentos, Ninfomaníaca será um presente.

O irônico é que o filme apenas diz o óbvio, mas usando Charlotte Gainsbourg, Stacy Martin, Stellan Skarsgård, Uma Thurman, Christian Slater, Connie Nielsen, Shia LaBeouf, entre outros.


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Escrito por Louise

Amo, respiro e me alimento de quadrinhos, acho completamente normal se envolver emocionalmente com personagens de séries e filmes, e já vou avisando: NÃO MEXA COM MEUS HERÓIS!

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