A temática pós-apocalíptica tornou-se recorrente para os cineastas modernos. Nós testemunhamos as consequências do apocalipse de formas variadas como guerra nuclear, esgotamento de energia, ataques de zumbis, entre outros. E enquanto alguns argumentam que o tema já está saturado, eu digo que realmente gosto deste tipo de premissa. É um cenário que oferece aos cineastas um leque de oportunidades para trabalhar os seres humanos através de uma infinidade de emoções e relacionamentos.
Z for Zachariah ambienta-se nesse cenário conhecido e popular. Mas o filme, dirigido por Craig Zobel e baseado em no romance homônimo publicado originalmente em 1974, apresenta várias novidades e se diferencia da norma pós-apocalíptica. Alguns lampejos de ficção científica podem ser vistos ocasionalmente, mas a maior parte do roteiro não se dedica ao apocalipse em si. O longa é centrado numa dinâmica mais atraente e envolvente – o drama humano.
O filme começa após um holocausto nuclear. Não há destruição generalizada ou vastos terrenos baldios. Apenas o vazio, a radiação e as cidades silenciosas repletas de resquícios do passado. É nesse lugar que conhecemos Ann (Margot Robbie), que vasculha a cidade radioativa vestida em roupas especiais. Logo ela volta para seu lar – uma fazenda em um terreno milagrosamente livre de radiação no alto das montanhas. Ann vive sozinha, ou melhor, com seu cachorro e sobrevive usando os ensinamentos de seu pai, que a fez trabalhar no campo desde pequena. Ela também manteve a fé de seu pai, crendo que Deus protegeu suas terras para um destino traçado.
Certo dia, quando sai para caçar, Ann fica chocada com o que vê – outro ser humano. Em uma estrada sinuosa em meio às montanhas, usando um traje anti-radiação e puxando um carrinho com seus pertences, está John Loomis (Chiwetel Ejiofor). Depois de um primeiro encontro complicado, Ann leva John para a fazenda, onde ele começa a ajudar com o trabalho. Antes do fim do mundo, John era um cientista e engenheiro. Ele respeita as crenças de Ann e é grato por sua hospitalidade.
Uma relação humana única é formada, cada um partindo de esferas muito diferentes, tentando entender o outro. Mas as coisas se complicam quando um misterioso estranho, chamado Caleb (Chris Pine), chega e se transforma na terceira parte desta relação, trazendo uma nova leva de complexidades emocionais.
Esta é a história que Zobel quer contar. Não há monstros mutantes, não há hordas de zumbis e tampouco um novo tipo de lei cujo líder é um carrasco. São simplesmente três pessoas lidando com situações internas e externas. Talvez eles sejam as últimas pessoas na Terra – o que acrescenta uma perspectiva única para a história. Mesmo em suas situações incríveis de sobrevivência, os mais vis e primitivos instintos humanos ainda precisam de atenção. E, apesar de suas situações milagrosas, as pessoas sempre vão entrar em conflito.
Existe um elemento espiritual profundo na personagem de Margot Robbie que promove um rico simbolismo na história. Loomis e Caleb, por outro lado, trazem as reviravoltas e não estou falando de brigas, mas sim de emoções. Mesmo em sua simplicidade, a história é um exercício inteligente e diferenciado das questões humanas e da exploração interna de cada pessoa, em suas diferenças.
Margot Robbie, Chiwetel Ejiofor e Chris Pine estão sensacionais e seguram muito bem o longa sem ajuda de elenco de apoio. Z for Zachariah combina mais com o gênero drama do que com ficção científica, apesar de sua premissa. Além disso, se trata de um roteiro bastante subjetivo e que não agrada todos os tipos de público. É uma história que te faz pensar, sentir raiva, se colocar no lugar dessas pessoas, tentar tomar decisões por eles e, principalmente, refletir sobre a humanidade que cada um carrega.
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