Depois de uma longa espera de 10 anos, (sim, a adaptação de Warcraft foi anunciada pela Blizzard em 2006) Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos finalmente pode ser visto em uma tela imensa e com um som poderoso.
O filme, dirigido por Duncan Jones – mesmo de “Lunar” (2009) e “Contra o Tempo” (2011) – veio com gana e fôlego para finalmente responder a pergunta que fizemos 7 meses atrás, no artigo Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos | Será esta a redenção dos filmes baseados em games? É hora de tirar isso a limpo.
Warcraft- O Primeiro Encontro de Dois Mundos se passa em Azeroth, terra governada pelo Rei Llane Wrynn (Dominic Cooper) que conta com duas peças importantes para proteger o Reino de Ventobravo: o guerreiro Anduin Lothar (Travis Fimmel) e o mágico-bruxo-mago Merlin e guardião Medivh (Ben Foster).
O reino, que estava em paz, se vê ameaçado quando um portal é aberto pelos Orcs, que conseguem realizar sua transposição de um mundo para o outro. Ou seja, do mundo das criaturas com mais de 200kgs e quase três metros de altura, para o mundo dos reles mortais e pecadores, os humanos. Por meio das ordens do líder dos Orcs – Gul’dan (Daniel Wu) – as criaturas começam a atacar Azeroth em busca de dominar o local, escravizar os humanos e sugar suas almas para se tornarem cada vez mais fortes.
Em contrapartida, existe uma galera Orc que faz parte da resistência, chefiada por Durotan (Toby Kebbell), não concordam com tais ideias e tentam buscar um acordo sadio entre Orcs e humanos. De lados opostos, dois heróis são colocados em rota de colisão, e isso irá decidir o destino de suas famílias, seu povo e seu lar. Então, uma saga espetacular de poder e sacrifício começa, onde a guerra tem muitas faces e todos lutam por algo.
A premissa de Warcraft-O Primeiro Encontro de Dois Mundos não traz nada de novo, ou seja, você com certeza já viu essa história em algum outro épico de fantasia. É aquele mesmo esquema de sempre – uma luta de classes e raças diferentes; um feiticeiro poderoso (Medivh) que carrega o estigma de corrupto; um aprendiz de feiticeiro (Khadgar, vivido por Ben Schnetzer) que é voraz na busca pelo conhecimento, mas ainda não tem confiança para assumir sua posição como um grande guardião; além de tantas outras situações e arquétipos que você já cansou de ver em outras histórias, também estão presentes no filme de Duncan Jones.
Entretanto, estamos falando da adaptação de uma grande franquia de uma desenvolvedora de games que angariou milhares de fãs desde o século passado. Hoje, a Blizzard expandiu os produtos da Warcraft e, além dos jogos, temos livros, histórias em quadrinhos e uma série de outros produtos. Aliás, a história contada aqui, se passa em dois livros da série – “The Last Guardian” (2002) e “Rise of the Horde” (2006). Portanto, o esforço da Blizzard e da Legendary Pictures junto com a Universal, foi em mostrar algo novo e, em alguns pontos eles realmente conseguiram, enquanto em outros, não. Isso faz com que a maldição dessas adaptações tenha acabado? Ao meu ver sim, e vou explicar mais adiante.
Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos tem um visual deslumbrante. Eu sempre achei que com o passar do tempo e os avanços do motor gráfico de um jogo, era possível criar cutscenes muito semelhantes ou até superiores aos filmes. Portanto, neste ponto o longa não errou, aliás, mostrou um visual que impressiona e com uma paleta de cores que lembra muito a usada por James Cameron em “Avatar” (2009). Os efeitos especiais, o figurino dos humanos e o trabalho de dar vida aos Orcs, e fazê-los expressar emoções além da ferocidade e da feiura, foi importante para humanizar e dar um aspecto diferente do clichê do gênero – clichê esse, que fala muito mais em Orc como uma criatura maldosa, horripilante, enquanto os humanos são bons, lindos e dignos de vitória, iluminação e soberania. No aspecto técnico, não tenho do que reclamar.
Já nos quesitos ritmo, narrativa e trilha sonora, o longa acaba se tornando muito pedante. No primeiro ato, você consegue entender muito bem o que a história quer mostrar, percebe que é necessário apresentar os personagens, situar o espectador na trama e dar seguimento nela. Já no segundo, o ritmo – que deveria manter o espectador ligado – se perde nas motivações de cada personagem e no verdadeiro embate entre as duas raças, que não convence. Enquanto tudo isso está sendo mostrado, o espectador fica inquieto na cadeira esperando o clímax chegar e quando realmente chega, o enredo foi tão arrastado que já não empolga mais.
Veja também: Vem aí o livro contando os bastidores do filme Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos
Visualmente, você continua achando tudo lindo, mas as batalhas entre Orcs e humanos emocionam. Não joga o espectador no epicentro do embate, não o fazem clamar por vitória ou derrota. E esse problema de falta de ritmo acaba refletindo em outros campos, como no desfecho previsível. Enquanto tudo isso rola, a trilha sonora de Ramin Djawadi tenta dar a sensação de imersão e emoção, mas não consegue e acaba de tornando massante ao ponto de incomodar em algumas cenas.
As interpretações também tem seus altos e baixos. Por incrível que pareça, a Horda está muito mais expressiva do que o lado oposto. Dominic Cooper é um rei muito genérico, me lembrando bastante o modo como Robb Stark, de Game of Thrones, conduzia a sua caminhada em Westeros. Já o Travis Fimmel, puta que pariu! Essa foi a minha maior raiva. Teve horas que eu queria mesmo era gritar: RAGNAR SAI DAÍ QUE VOCÊ NÃO ESTÁ EM KATTEGAT MEU FILHO!
Meu único receio era que Lothar se parecesse muito com Ragnar, da série Vikings, e esse receio infelizmente se confirmou. É um grande problema para atores que fazem um personagem muito foda, quando esse personagem acaba contaminando outros papéis. Toda cena em que Lothar articulava algo com o rei, as expressões eram as mesmas do rei de Kattegat. Uma pena só para quem é fã da série, quem não é e está conhecendo o trabalho do ator agora, não vai enxergar esse problema.
Paula Patton que fez a Garona Halforcen, esteve muito bem. A Orquisa que carrega mais traços humanos do que em relação a outros de sua raça, tem uma personalidade muito forte e momentos que me convenceram. Ao meu ver, não deixou a desejar em termos de interpretação e desenvolvimento.
Toby Kebbell está sensacional. Suas expressões conseguem passar a diferença que seu personagem tem diante de outros Orcs. Suas motivações me convenceram e sua interpretação também. Mais um acerto de Duncan no desenvolvimento do personagem.
Enfim, Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos é um filme razoável e veio sim para quebrar a maldição das adaptações de games, mas não da forma que muitos sonhavam. E quando eu falo isso, tem muito a ver com o nível que produções como essas foram colocadas por outros estúdios. Um exemplo muito importante a ser falado aqui, são as produções da Marvel Studios que colocaram os filmes de super-heróis num nível onde qualquer espectador já não espera nada menos de algo espetacularmente foda. E isso se espalhou para outros gêneros que atingem, em sua maioria, espectadores ligados à cultura geek. É aquela velha história do “sou fã, portanto eu quero ‘service’ e se esse ‘service’ não superar minhas expectativas, o filme não presta’ e aí os adjetivos descem a linha do respeitável. Mas aí é que está: o que esperar de um filme como Warcraft, se não uma guerra entre raças?
Mesmo com todos os problemas de Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos, o filme de Duncan Jones é um pequeno passo para uma nova era. Eles mostraram que são capazes de fazer grandes obras oriundas do universo gamer e uma janela para esse campo foi aberta. Agora, mais produções sérias surgirão, encontrarão um modo mais complexo e ao mesmo tempo dinâmico de se contar uma história e, assim, finalmente a tão falada “maldição” vai se extinguir. Aqui foi o começo do fim dessa história, e eu tenho certeza que o que vem pela frente será muito melhor do que presenciamos até agora.
Apesar de pequeno ainda assim é um passo. Pode ser insignificante para alguns, mas ainda assim, estamos falando de uma nova era.
Gostou? Tem mais:
Comentários
Loading…