Waking Life é uma animação em Rotoscópio (isto é, quando se ilustra por cima das cenas) lançada em 2001 e dirigida por Richard Linklater (Boyhood). Pode-se dizer que, na verdade, Linklater realizou dois filmes em um só, já que ele rodou todas as cenas do filme com os atores do elenco, repassando-as depois para Bob Sabiston, que com sua equipe de 30 animadores recobriu cada cena através da computação gráfica, transformando o filme em um longa de animação.
A história segue um jovem em seu sonho lúcido, e trata da existência e inexistência, em camadas e de diversas maneiras, seja ela real ou onírica. São três camadas e quanto mais ele atravessa a cortina, mais profundos se tornam seus questionamentos.
Temos neste filme a desconstrução total do ser, seja ele singular ou coletivo, os questionamentos sobre a existência, o tempo e o que se faz com tudo isso – bem como, o que se pode fazer.
Há sempre alguém falando o tempo todo. É uma quantidade absurda de ideias e informações, com citações de escritores famosos, filosofia, poesia, religião, ciência, psicologia e tudo mais. Por vezes o roteiro retorna a um assunto trazendo um novo ponto de vista, que só complementa ainda mais a obra. Além, é claro, de trazer alguns dos próprios pensadores à vida.
Livre arbítrio, sonhos, criação, o tempo enquanto momento único, expressão e formas de expressão, consciência, tudo o que envolve a existência, memória… São muitos assuntos, é como se estivéssemos dentro de uma sala com todas as filosofias do mundo. E elas te fazem pensar.

A música é um dos pontos principais da obra, chegando a dar um tom ao filme, como se o mesmo estivesse sendo orquestrado. À primeira vista é difícil fazer as ligações, mas basta prestar atenção para testemunhar toda a conectividade filosófica. É preciso tomar cuidado para não se perder, por isso você precisa, além de prestar atenção, escutar cada instrumento que compõe o musical. A música é tão importante que o sonho começa em uma cena em que uma orquestra toca.
A arte é outro dos pontos principais. Na verdade o diretor consegue fazer com que TUDO seja importante, mas a arte realmente consegue ilustrar toda essa viagem, pois também serve como comunicação. As cores transmitem a emoção que se quer passar, o traço transmite a diferença entre realismo e onirismo, e o movimento transmite as sensações.
No momento da comunicação, a fala se transforma em imagem e até mesmo os personagens se tornam aspectos importantes da ilustração, literalmente se transformando no que querem dizer ou no que querem passar. É como se ali não houvessem corpos, e sim almas.

Além disso, quanto mais o protagonista se aprofunda no sonho, mais soltos se tornam os traços, como um devaneio cada vez mais forte.

Quanto à atuação, como eu disse anteriormente, não temos ali corpos, mas almas ilustradas. A forma com que os personagens se expressam faz com que tudo mude, tendo cada um deles uma alma distinta. Isso vai ficando cada vez mais visível, já que a arte acompanha a atuação e a atuação acompanha a arte.

Waking Life é um filme pesado, onde arte e filosofia são jogadas em sua cara o tempo todo, juntamente com uma quantidade absurda de conceitos e frases de efeito. Afinal, é nos sonhos que nossos pensamentos mais profundos acontecem, é neles que podemos nos ver. Este é um dos MUITOS filmes filosóficos de Linklater, e se você gosta de toda essa reflexão, meu conselho é estar bem acordado para testemunhar este sonho incrível.
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