Bob Dylan é certamente conhecido por todos nós. Mesmo que você pense que não, com certeza esbarrou em alguma versão de suas músicas. Ele é um compositor e músico sensacional e revolucionou o mundo de várias formas, seja musicalmente, seja por suas letras marcantes e deveras “tapa na cara”, seja simplesmente pela sua personalidade forte ou ainda por sempre lutar por alguma causa. Ele é com certeza uma lenda e, como é mostrado em Não Estou Lá (2007) de Todd Haynes (Carol, Velvet Goldmine), sua personalidade foi e é tão única que extrapola um personagem.
Em toda a sua vida de reinvenções, Dylan se divide em:
Poeta
Ben Whishaw (Perfume: A História De Um Assassino) interpreta Arthur Rimbaud. Rimbaud responde a várias perguntas que são citações de Dylan em entrevistas. Dylan explica em sua autobiografia “Chronicles: Volume Um” ter sido influenciado pela aparência do poeta que assim como Dylan era uma alma inquieta, um gênio muito jovem comparado em sua época a Shakespeare.

Profeta
Christian Bale (Psicopata Americano) interpreta Jack Rollins e o Pastor John. Jack Rollins é um Dylan da fase acústica, de protesto que canta The Freewheelin’ Bob Dylan e The Times They Are a-Changin’. Pastor John remete ao período em que o cantor “nasceu de novo” como Cristão convertido e gravou Slow Train Coming e Saved.
Marginal
Richard Gere (Sempre Ao Seu Lado) é Billy the Kid. Billy se refere ao papel de Dylan no filme de Sam Peckinpah de 1973, o faroeste Pat Garrett and Billy the Kid. Mas ao mesmo tempo mostra o tempo em que ele ficou recluso, parando de produzir por um bom tempo.
Falso
Marcus Carl Franklin interpreta Woody. O personagem reflete a obsessão da juventude de Dylan pelo cantor norte-americano de música folk Woody Guthrie. Como uma criança imatura que idolatra seu ídolo e quer ser como ele. O personagem também se refere as autobiografias fictícias que o cantor construiu durante sua carreira inicial e como ele estabeleceu a sua identidade artística. Marcus recebeu um Independent Spirit Award por sua atuação.
Astro
Heath Ledger (Batman: O Cavaleiro Das Trevas) é Robbie Clark. Um ator que interpreta um filme biográfico sobre Jack Rollin; as experiências com um casamento em deterioração reflete a vida pessoal de Dylan por volta de 1975, quando gravou Blood on the Tracks.
Rockstar
Por último, mas não menos importante – talvez até mais – Cate Blanchett (O Estranho Caso de Benjamin Button), interpretando Jude Quinn. O personagem reflete Dylan de 1965–1966, durante a controvérsia criada quando o cantor passou a usar guitarras elétricas (o “Dylan Elétrico”) a partir do Festival Folk de Newport (Rhode Island), e viajou até a Inglaterra com uma banda e foi vaiado. O período foi documentado por D. A. Pennebaker em Eat the Document. Este personagem é o mais marcante, tanto que a atriz recebeu um globo de ouro e foi indicada ao Oscar em 2008. Sinceramente, quando assisti ao filme, não percebi de maneira nenhuma que se tratasse de uma atriz, o tempo todo ela passa a sensação de ser um rockstar jovem, bem “moleque”. A semelhança com Dylan também se faz presente (e digo isso não só pela aparência, mas muito pela sensação que a atriz nos transmite):
O longa conta, através de vários personagens distintos, sua vida, e a forma ao qual a sua história é contada também se divide, transitando pelos personagens por todo o filme. Nada é tão linear que possa se encarar diretamente, pois um personagem não anula o outro. Tudo que Dylan já foi um dia sempre permanecerá com ele – assim como acontece conosco, mesmo que mudemos, sempre teremos um resquício do que fomos um dia.
O longa por si só tem dois sabores diferentes: Um que te faz querer conhecer Dylan por toda a essência que ele traz e outro para quem já o conhece. Isso acontece porque acima de tudo, tudo é simbolizado de forma muito artística, mudando sempre de acordo. Temos preto e branco, temos drama, romance, cenas teatrais, fantasiosas, com clima de faroeste, circenses, com trejeitos de Blues, enfim, de tudo mesmo. É uma simbologia com a realidade como pano de fundo. O filme nunca se mantém o mesmo. ele muda, junto com Dylan. E ele transita impecavelmente, a fotografia é tão bonita que você sente vontade de guardar tudo em algum lugar. Por vezes parece até um filme francês.
Simplificando, tudo é simbolista e fantasioso, misturado com reportagens, é um devaneio filmado que fantasia a vida de Bob, pois essa merece ser fantasiada. Alguém que deixa a sua marca em todo lugar que passa, pois não tem nenhum receio de dizer o que pensa, de criticar, fazer valer sua voz. Alguém que respira e inspira poesia sem nunca deixar de ser um espirito livre.
A trilha sonora é um ponto altíssimo. Ela é toda baseada nas músicas do cantor, muitas originais e muitas versões feitas especialmente para o filme. Um bom exemplo é a Ballad Of A Thin Man, confira:
Tudo é tão artístico, poético e critico que com certeza vale a pena para todos. Se você não conhece Dylan, vai querer conhecer, e se conhece, vai sacar todas às referencias e ficar realmente satisfeito. Eu particularmente sou apaixonado por ele e quanto mais o conheço e conheço sua obra, mais fã me torno.
Além dos “Dylans”, também podemos contar com grandes nomes como Charlotte Gainsbourg (Ninfomaníaca), Julianne Moore (Para Sempre Alice) Bruce Greenwood (Star Trek: Into The Darkness), Michelle Williams (Ilha Do Medo) . Todos interpretando pessoas que passaram pela vida de Dylan, da forma que se representaram na vida dele. Muito bem representadas.
Com um elenco impecável, trilha sonora de qualidade e muita genialidade, Não Estou Lá se mostra como algo muito além de um documentário, é um longa que se vale sozinho. Tudo o que o cantor representa vai mexer contigo, conhecendo-o ou não. Ah sim, você pode encontrar o filme no catalogo da Netflix!
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