Acredito que os comentários pertinentes sobre a fase do cinema envolvendo os filmes de super-heróis foi uma boa sacada de marketing de Martin Scorsese. Tudo para voltar os olhos de todos para sua nova produção, “O Irlandês” (2019). Seu novo filme apesar de ter tido um curto período de exibição nos cinemas, faz parte do catálogo original da Netflix que investiu pesado na produção. No final, “O Irlandês” é um dos melhores trabalhos do diretor e consegue transparecer as boas lembranças dos filmes da máfia das antigas.
Dirigido por Martin Scorsese (Os Bons Companheiros), o filme é baseado no emblemático livro homônimo de Charles Brandt. A transparência dos caminhos da vida mafiosa fazem parte dessa condução, como também a necessidade de colocar uma consequência pesada para cada ato especialmente no final da vida. A necessidade em ser parte da família em prol de um bem maior mesmo que para isso seja necessário sujar as mãos.

Frank Sheeran (Robert De Niro) é um veterano de guerra e caminhoneiro que ganha a vida com entregas de carne para frigoríficos. Um dia, por seus trabalhos debaixo do pano para ganhar um dinheiro a mais e sustentar sua família. Essa atitude o conecta a Russel Bufalino (Joe Pesci), um membro da máfia italiana na Pensilvânia, que percebe um brilho no jovem rapaz e sem hesitar o encarrega de ser seu garoto de recados para seus trabalhos sujos.
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Com toda sua trajetória no decorrer dos anos, Frank logo conhece o Jimmy Hoffa (Al Pacino), líder do sindicato de caminhoneiros, uma das personalidades mais influentes no país na década de 60. Uma forte aliança é formada como também um grande amizade entre dois mas não demora para Frank perceba que Hoffa pode ser uma pedra no sapato nos desejos da máfia. Ocasionando no sumiço do líder do sindicato que até hoje segue sem respostas.

A primeira impressão e o susto pode ser o tamanho do filme que chega a mais de três horas de duração, o que gerou reclamações do público nas redes sociais. Mas essas horas são fundamentais para entender como toda a narrativa é construída e a necessidade para expor a trajetória de Frank Sheeran sem muitos devaneios, pode não parecer mas cada minuto importa para conhecer plenamente as índoles e feitos do personagem.
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A profundidade da narrativa é contradizer a vida mafiosa e do seu protagonista em um ar filosófico e emotivo. Tanto que o filme aborda esses temas quando dividido e encarado em duas partes, a primeira o foco em seus trabalhos sujos e sangrentos com os relacionamento conturbados e a segunda nas consequência que isso acarreta para sua vida pessoal e familiar, ainda mais que aqui a velhice explore toda a glória desses caminhos traz a dureza de ser alguém sozinho e simplicidade que até mesmo para eles o tempo chega ao fim.

O roteiro trabalha com que o telespectador conheça a história, tanto que não se perde em explicações sobre pequenos fatos mas utiliza sabiamente vestígios como o ataque em Cuba e a morte do presidente Kennedy. Nada na história é preto no branco, o respeito conquistado pelo protagonista tem seus questionamentos e as relações com cada um que cria alianças é obra de interesse pois dependendo de como for o desejo da maioria pode tomar um desfecho com a morte.
O trio formado pelos gigantes Robert De Niro, Joe Pesci e Al Pacino novamente dão um show de atuação em cada momento de tela, respeitosamente como nenhum ofusca o brilho do outro compartilham a mesma cena, é possível percebe que o outro cresce com as falas do outros. De Niro como protagonista ainda surpreende em trazer profundidade em como entrega seu personagem especialmente nos momentos finais da trajetória.

O único problema que podemos reparar na produção são os efeitos digitais para rejuvenescimento dos atores, em algumas cenas chegam a incomodar, mas nada que prejudique o trabalho como um todo. Martin Scorsese continua sabendo contar boas histórias em suas maneiras narrativas com câmera, isso é notável porque aqui seu trabalho é muito mais autoral que antes, não esteve preso a grandes estúdios e a liberdade o deixaram caminhar sem amarras. Novamente o tom melancólico e depressivo são suas marcas registradas nesse gênero de filmes.
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Com algumas exceções nos efeitos especiais, “O Irlandês” é um filme excepcional e que precisa ser visto, mesmo que enfrente suas três horas o resultado é um espetáculo cinematográfico. Nada disso seria possível se não fosse pela excelente direção de Martin Scorsese em sua melhor fase e o estrondo da atuação do trio De Niro, Pacino e Pesci. Uma história que entrega reflexões, sentimentos e dilemas na vida do crime com um bom filme da máfia deve ser.
“O Irlandês” está disponível na Netflix.
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