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Bacurau (2019) | Lunga é o Brasil na Libertadores

Ser jogado para dentro da pequena cidade do sertão nordestino como se estivesse em um jogo de battleroyale, é o que “Bacurau” faz logo de cara. Você não sabe para onde olhar, ir ou no que pensar, mas observa todos os personagens do jogo se movendo para chegar ao objetivo final de resistir e continuar vivo no final do game.

Tudo bem que na premissa de um jogo de battleroyale somente um fica vivo, em “Bacurau” podemos dizer que o que ficou vivo é o Brasil. Mas para isso acontecer, foi preciso estratégia, malícia e muito ousadia.

“Bacurau” tem uma trama de múltiplas camadas que promove transgressões e discussões para uma conversa de bar quase infinita. Os motivos não são poucos. O tempo é no futuro, mas parece muito bem ser o agora. A cidade de Bacurau sofre com a falta d’água e com a negligência de seus governantes.

Bacurau (2019) | Lunga é o Brasil na Libertadores
Cena de “Bacurau”

O prefeito só aparece quando precisa de votos e quando não é pra isso, deixa “agrados” como comida com data de validade vencida e livros que não servem nem para reciclagem. Ele jamais conheceu o povo da cidade como qualquer político que foi eleito para tal cargo deveria fazer. Além disso, promove uma espécie de “turismo” quando deixa norte-americanos fazer da cidade um jogo de videogame. Quanto mais gente de Bacurau um jogador matar, mais pontos ele ganha.

Bacurau (2019) | Lunga é o Brasil na Libertadores
Cena de “Bacurau”

Bacurau é feita de gente como a gente, uma cidade que respeita as diferenças, seja ela de gênero, raça, religião ou orientação sexual. Uma cidade onde crianças brincam no chão de terra batido sem enxergar qualquer dificuldade ao seu redor. Mas o problema de Bacurau está justamente nesse redor. O que está nele causa repulsa, indignação e uma vontade enorme de não acreditar em tudo que está passando diante de seus olhos. Pode ser verdade ou uma metáfora crua do que vivemos.

Bacurau (2019) | Lunga é o Brasil na Libertadores
Cena de “Bacurau”

Dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, “Bacurau” é um filme de faroeste que mostra os dois lados da moeda e como resolver o problema antes da corda arrebentar como no lado mais fraco. Resistir e se armar é uma opção, mas para chegar ao êxito é preciso até mesmo aceitar forças de um renegado ou de alguém que você nem torceria para se dar bem na vida em qualquer sentido.

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Esse é um tipo de sentimento que pode ser traduzido na trajetória de Lunga (Silvero Pereira). Um cara violento que vive à margem da sociedade (muito por causa dela) e não tem o menor problema em relação a isso, pois sabe que não é bem vindo nela, mas que têm as armas, força e o conhecimento necessário para resolver qualquer problema sob a tutela do “mal necessário”.

Bacurau (2019) | Lunga é o Brasil na Libertadores
Lunga (Silvero Pereira) em “Bacurau”

Lunga não é e nem quer ser um herói, muito menos o salvador da pátria, tudo que faz é mostrar que em terras onde não nasce flor, o espinho de um cacto é o que de mais belo há no jardim e que isso deve ser respeitado. No sangue quente que corre nos punhos de uma gente sofrida e sobrevivente, há glóbulos de resistência e esperança. Não importa de onde você veio, nem o que você fez, principalmente quando a ameaça vem de fora. Nesse momento você esquece de tudo e respeita a união para representar os seus.

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Bacurau (2019) | Lunga é o Brasil na Libertadores
Cena de “Bacurau”

Em “Bacurau”, Lunga causa algo semelhante ao que sentimentos quando um time brasileiro (mesmo que não seja o que você torce) está numa final contra qualquer outro time sul-americano. Você pode não gostar dele por algum motivo ou odiá-lo com todas as suas forças, mas de uma forma geral é melhor que um título do tamanho de uma Libertadores fique no País do que nas mãos dos gringos.

“Bacurau” estreia em 29 de agosto de 2019.

Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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