Alguns anos antes de se pensar em reboot, no longínquo e feliz ano de 2008, a revista Action Comics tinha sua equipe criativa composta pelo já aclamado autor Geoff Johns e pelo talentoso ilustrador Gary Frank. A colaboração entre os dois artistas no título foi relativamente breve gerando, além do aclamado arco “Superman: Legião dos Super Heróis”, outra história que mudou muito o panorama dos títulos do personagem, além de explorar um faceta meio obscura até o momento da mitologia Kryptoniana.
O arco chamado simplesmente de Superman: Brainiac foi publicado aqui no Brasil em 2009, no título mensal do Azulão (a partir da edição número 80) e agora em 2015 a Panini compila esta saga publicada originalmente em Action Comics #866 a #870 com o adendo da edição especial Superman: New Krypton Special #1.
O roteiro de Johns, apesar de completamente integrado à cronologia dos títulos do Homem de Aço naquela ocasião, é extremamente fácil de compreender e se situar. Portanto, não exige conhecimento prévio de nada que estava acontecendo nos títulos do personagem na época.
A premissa é simples e direta: em sua busca eterna por conhecimento, Brainiac envia múltiplas sondas em forma de autômatos pelos confins do universo enquanto hiberna em sua nave coletora. Uma dessas sondas chega à Terra e, logicamente, alerta o Kryptoniano mais famoso dos quadrinhos.
Este novo contato com Brainiac, somado a um alerta de sua prima Supergirl, leva Kal-El a estudar mais profundamente a relação entre o vilão e seu planeta natal. Com isso, novos segredos sobre Krypton vêm à tona e o herói se vê em meio a uma invasão que pode significar o fim do nosso planeta.
Sim. Não há nada muito original na sinopse acima. Uma ameaça do passado do protagonista retorna para desestabilizar seu ambiente atual trazendo consigo alguns “esqueletos” guardados no armário. O charme de Brainiac é justamente a simplicidade como Johns relaciona eventos dramáticos e mitológicos do planeta natal de seu protagonista com um vilão frio e de motivações muito claras.
Tudo isso em um pacote bastante amistoso, épico e inserido no contexto de um título mensal. Este é o Superman e todo o rico elenco de Metropolis da Terra-0 na época de fato.
E enquanto o roteirista usa as passagens com Clark Kent para explorar esta faceta mais humana do título, tanto nas cenas no Planeta Diário quanto nas em Smallville, nos momentos entre Superman e Brainiac o autor muda drasticamente de tom e deixa a ação épica e muitas vezes silenciosa falar mais alto.
Um equilíbrio muito bem feito entre flashbacks, ação super-heroica com tons cinematográficos, drama e toques de humor humanizado. Os diálogos em momento algum descambam para a exposição excessiva ou constatações óbvias e, na medida do possível, o elenco de apoio tem sua chance de brilhar.
Brainiac é uma ameaça quase que muda em sua busca por conhecimento e alguns dos temas mostrados aqui serviram sim de inspiração para a premissa da mais recente saga multiversal da DC Comics chamada Convergence. No entanto, aqui são aplicados de maneira muito menos esdrúxula e com o selo de objetividade característico deste autor.
A arte de Gary Frank, neste arco especificamente, é de uma classe poucas vezes vista em um título mensal do Superman nos últimos 15 anos. As cuecas estão ali de volta e o Homem de Aço veste-as com orgulho. Fica inviável falar um “Ai!” dessa apresentação gráfica se você é fã do personagem clássico.
Os quadros, em sua maioria, são grandes, muito bem fotografados, cuidadosamente distribuídos e dispostos em uma sequência narrativa lógica e simples. A caracterização dos personagens é meticulosa dentro do estilo do artista. Repare nas diferenças de tipos físicos, principalmente entre a parte feminina deste elenco. É tudo sutil e verossímil dentro dos limites de histórias em quadrinhos.
Mas é claro que em gibi do Super o que queremos ver são combates “maiores que a vida”, e Frank desde sua época em Incrível Hulk na Marvel é um verdadeiro especialista em ação “brutamontes” dessa natureza. As cenas de ação seja em Krypton, no espaço claustrofóbico da câmara de Brainiac ou mesmo no clímax na Terra são “maiores que a vida” como devem ser em gibis assim. O Superman dando porrada é o Superman que você quer ver, seja em um filme, desenho ou gibi. Frank sintetiza tudo que mais admiramos nos aspectos gráficos deste ícone e entrega um arco simplesmente lindo.
A chegada de um encadernado resgatando um arco divertido como Brainiac é muito bem-vinda. Por um preço relativamente acessível (R$ 25,90), o leitor nacional que não conhece uma boa fase de um dos maiores ícones dos quadrinhos pode aproveitar uma fotografia excelente dos bons tempos do herói.
O fato do arco de Johns ser objetivo, épico, cheio de ação, não necessitar conhecimento prévio e de realmente causar mudanças significativas na vida do protagonista, é um enorme atrativo. Somando-se à arte classuda e caprichada de Gary Frank, temos um investimento interessante para o colecionador de quadrinhos nacional.
Curtiu? Se interessou por esta HQ? Ela já está disponível para venda na Liga HQ!
Comentários
Loading…