Pra entender Totally Awesome Hulk da Marvel vamos a um pequeno exercício mental: Imagine que você é um menino adolescente bem imaturo e com uma capacidade cognitiva acima da média humana, imagine que você é fã incondicional de um determinado super herói e que este determinado herói foi tratado como uma aberração durante praticamente toda sua carreira, agora imagine que da noite para o dia você se torna este super herói e tem de enfrentar todas as consequências físicas e mentais disso. Se você conseguiu alcançar este entendimento e simpatiza com o menino provavelmente vai entender porque o novo gibi do Hulk estreia desta forma.
Tirando logo do caminho, Totally Awesome Hulk é um gibi extremamente babaca (no melhor sentido da palavra). Não temos uma premissa sensível tampouco traumática ou tragicômica. O tom da narrativa de Greg Pak se assemelha à boa fase de Joe Kelly quando assumiu o título do Deadpool. Portanto, se você não é fã deste tipo de formato mais despojado (bem diferente do indie) de gibi, esqueça esta leitura. Esta “Deadpoolização” do Hulk é dosada no entanto, atendendo às demandas emocionais de um protagonista como Amadeus Cho (Não é spoiler a esta altura, pelamor, né?). Portanto parece que estamos assistindo a um desenho animado de sábado com certa dose de conteúdo adolescente. Cho sempre foi naturalmente descontraído e levemente imaturo desde sua concepção (de responsabilidade do próprio Greg Pak) e isso é somente exacerbado levemente por conta da alteração de personalidade natural que ocorre devido à transformação no Gigante Esmeralda. Greg Pak entende perfeitamente quem é Amadeus Cho: O cara não é um herói altivo e nem o jovem sensível e fofinho que você gostaria de namorar e / ou apresentar pros seus pais. Ele é um garoto gênio meio babaquinha, fanboy do Hulk (espécie desprezível, né?) e que às vezes pode ser irritante sim. Deal with it!

Felizmente os eventos aqui (assim como em todos os outros títulos da nova linha da editora) se passam oito meses após o início deste novo universo Marvel. Então, apesar de alguns indícios do que aconteceu com Bruce Banner serem mostrados em um rápido flashback, a revista é 95% “Novo Hulk baixando a porrada em monstros e se comportando de maneira estúpida”. O inteligente contraponto de Cho na revista é sua irmã, Maddy – Uma jovem (também “genia”, claro) que entende perfeitamente o que está acontecendo com o irmão e serve como interlocutora / apoio tático / perspectiva do leitor, nesta nova fase do personagem. Maddy, que estreou na Marvel na fase “Hércules” do título do Verdão, já faz sua primeira aparição aqui mostrando quem é que de fato manda neste team hulk. É aquele velho clichê de “homem serve pra dar porrada e mulher serve pra direcionar os golpes”, que se encaixa como uma luva na relação dos irmãos Cho. De bônus o leitor ainda ganha pequenas interações bem divertidas do novo Hulk com conhecidos personagens da nova Marvel e a apresentação de uma nova antagonista que segue os padrões (nada originais) de vilões em gibis do Hulk.
Muitas pessoas odeiam Frank Cho. Isso é compreensível. O cara em pleno ano de 2015 ainda cisma em (ocasionalmente) retratar mulheres de forma extremamente sensualizada, com vestimentas inviáveis em infames poses heroico-eróticas. O fato é que, independente disso, o sujeito é um artista extremamente competente e caprichoso (quando tem prazos de trabalho confortáveis). Em Totally Awesome Hulk, a parte da sensualização está quase que ausente. Ok, temos uma cena com uma coadjuvante de biquíni abrindo a HQ, mas fica claro que é uma piada interna entre os criadores (repare no nome do bebê que a moça está segurando) e que atende à proposta do roteiro em começar em uma praia. No decorrer da revista, Cho faz o que faz melhor: Traço extremamente limpo e polido, fotografia cinematográfica em cenas de ação, caracterização linda de todo o elenco e um Hulk que impõe respeito, mesmo com os olhinhos puxados de descendente de Sul Coreano. Cho é um artista e tanto, que frequentemente toma decisões visuais erradas é acaba se queimando com o público feminino de quadrinhos, mas ninguém pode negar seu talento pra desenhar gibis de heróis.
Totally Awesome Hulk é estúpida, é infantil e é óbvia em alguns pontos. A revista tem um protagonista levemente irritante e não veio para revolucionar este mercado. Isso tudo é verdade, mas a maior verdade desta estreia é que Greg Pak entende perfeitamente quem é Amadeus Cho e o que acontece quando o garoto se torna uma bomba gama humana. Você odeia a premissa de Cho ser o novo Hulk? Ok! Isso provavelmente nem foi ideia deste roteirista, portanto por isso ele não pode ser responsabilizado. O que Pak e Frank Cho podem ser responsabilizados é por um gibi casual e muito divertido que faz de tudo para retratar seu protagonista da maneira mais verdadeira possível com uma arte extremamente caprichada e ação do início ao fim.
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