Em vários momentos da minha vida eu me imaginei numa banheira quase submerso de ressaca como a Rê Bordosa, onde a personagem criado pelo cartunista Angeli, fica na maioria de suas tiras. Eu não cheguei a ler uma “Chiclete com Banana”, que era a revista na qual a personagem também era publicada.
Mas foi nas páginas dos jornais da Folha de São Paulo, que eu pude conhecê-la mais de perto. Me apaixonei logo de cara e passei a procurá-la sempre que tinha uma edição do jornal em mãos. Eu estava começando a adolescência, e ler jornal na casa da minha avó aos domingos era um dos poucos passatempo que eu tinha na época.
Rê Bordosa é uma mulher de aproximadamente 40 anos, alcoólatra, ninfomaníaca, desbocada e desprovida de bom senso, cujas histórias giram em torno de suas manias e desejos. Além de ácida e crítica ferrenha ao machismo e ao sistema, ela consegue em poucos quadros te fazer sorrir diante de uma vida degradante, afinal de contas ela não tem nada a perder.
A primeira aparição da Rê Bordosa aconteceu em 04 de abril de 1984, dentro da sua famosa banheira. Porém, sua vida durou pouco e não foi por perder a dignidade (ela já nasceu sem), por coma alcoólico e nem por cirrose hepática. A personagem foi assassinada pelo Angeli em 1987. Os motivos: o sucesso da personagem ofuscando outros personagens como Bob Cuspe e Wood & Stock, por exemplo, e o incômodo que o autor sentia em não querer ser conhecido apenas pelo seu trampo com ela.
Em “Toda Rê Bordosa”, as tirinhas foram reunidas pela primeira vez num álbum de luxo de 216 páginas, e restauradas digitalmente a partir dos originais do autor. Nele, o leitor vai finalmente poder conhecer a personagem do início ao fim. Vai passar por várias de suas fases, por tantas ressacas e por um jeito bem doido de viver que era característico dos anos 80. Mas isso nem de longe transforma o compilado lançado em 2012 pela “Quadrinhos na Cia”, selo da Companhia das Letras, em uma obra datada.
Quem conhece apenas o mito terá acesso a todas as tiras, histórias longas, rabiscos e ameaças tramadas por Angeli contra sua criatura. E quem nunca se esqueceu dela pode ir encostando no balcão. A casa é sua, como ela disse tantas vezes.
É possível se identificar com vários momentos vividos pela Rê Bordosa, principalmente se você tem como hábito encher a cara de vez em quando, aprontar várias coisas e não lembrar de nada no dia seguinte. Inclusive, recomendo ler em um dia de ressaca. A experiência vai ser animal!
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