É difícil encontrar um filme do diretor japonês que não tenha múltiplas camadas, além daquela que conduz a trama principal. Assim como Miyazaki mostrou em “Nausicaa do Vale do Vento” (1984) e “O Serviços de Entregas da Kiki” (1989), por exemplo, ele demonstra também em “Princesa Monoke”.
Mas diferentemente das animações citadas para exemplificar o poder narrativo do cineasta, a história de Ashitaka e San, conta também com luta política, representatividade, protagonismo feminino e perdão. E na verdade, são ótimos elementos para transformar uma trama em um filme épico do começo ao fim.
Na história, a aldeia de Ashitaka é invadida por um estranho demônio, e quem resolve enfrentá-lo é o corajoso príncipe. Ele luta com o bicho e consegue matá-lo, mas acaba ficando com o braço ferido e contaminado por uma maldição. Pra não morrer corroído pelo ódio herdado pelo bicho endemoniado, ele terá que buscar a cura na floresta proibida. É aí que começa a jornada de Ashitaka, que vai enfrentar animais fantásticos, princesas amaldiçoadas e os mistérios da natureza. O príncipe vai conhecer também os homens que querem destruir a floresta, e a pequena San, a garota criada pelos lobos e conhecida como Princesa Mononoke.
Nesse círculo em que tudo acontece, as camadas criadas por Miyazaki fazem uma crítica ao uso desenfreado de recursos fornecidos pela natureza e o desequilíbrio que o homem causa quando o que está em jogo é ganância e poder. Por outro lado, ele também usa Ashitaka como o ponto de equilíbrio dos conflitos entre os homens que têm o ódio e pólvora como combustível. Ele acredita que independentemente dos erros que seres como nós causamos ao mundo, o ódio pelo ódio só potencializa os danos causados por ele não só na gente mas em tudo que está ao nosso redor.
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Já San, é usada para demonstrar a força feminina, representatividade (isso em 1997) e justiça perante aos que buscam degradar o meio ambiente de forma desenfreada. Ela foi abandonada por seus pais quando era recém nascida e acabou sendo criada por lobos, a floresta é sua casa, logo quem ousar fazer qualquer coisa de ruim vai ter que lidar com a fúria dela. Ódio pelos homens ela também tem, mas carregado de um senso de justiça.
Ainda assim, quando San e Ashitaka estão juntos, há em cena o exemplo do que é o equilíbrio e o que se pode aprender um com o outro, e esses aprendizados são complementos que ambos precisam para praticar a política necessária em suas aldeias.
No fim das contas, a epopéia de “Princesa Mononoke” fala mais sobre ódio x perdão do que qualquer outra coisa. É lindo ver como os dois sentimentos são trabalhados na animação japonesa e como na natureza até os sentimentos se transformam.
“Princesa Mononoke” está disponível para assistir na Netlix.
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