Depois de ter sido ignorada na formação dos Vingadores de Joss Whedon, a fundadora da equipe e responsável por dar o nome de “Vingadores” à mesma, Janet Van Dyne, a Vespa, foi reduzida a um cameo de poucos segundos no filme do Homem-Formiga. Para uma heroína que teve um papel tão importante na história da equipe e está nos quadrinhos a mais de 50 anos, o que aconteceu foi um enorme desrespeito com uma personagem extremamente amada.
Assim como Tony Stark, Janet Van Dyne é uma heroína-celebridade. Nos quadrinhos ela dá conta de duas carreiras: designer de moda e Vingadora. Ela é uma personagem perfeita para preencher a lacuna entre o mundo civil e o dos Vingadores, cada vez mais militarizado.
Homem-Formiga é um filme incrível, mas ao mesmo tempo, é o pior filme do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) na questão da representatividade – e olha que a Marvel tem problemas com isso desde o primeiro Homem de Ferro.
Suas três personagens femininas são 1) a filha de Scott Long que existe apenas para ser “bonitinha” e ser usada como motivação para o pai assumir o manto de Homem-Formiga; 2) a mãe de Cassie que existe apenas para evitar que Scott se aproxime da filha (e é casada com um cara que também só serve para impedir Scott de vê-la); e 3) Hope Van Dyne, uma executiva extremamente inteligente, especialista em combate corpo-a-corpo, familiarizada com as partículas Pym e controla as formigas com maestria.
O problema com Hope é que ela existe porque os produtores do filme sabiam que precisavam ter uma personagem feminina para vender ingressos para mulheres. Infelizmente a Marvel Studios e seu CEO, Kevin Feige, não entendem nada sobre a forma certa de retratar personagens femininas – como já vimos anteriormente com a falta de consideração que os filmes têm com a Viúva Negra, Maria Hill, entre outras. Resumidamente, a Marvel Studios não entende que mulheres são capazes de muita coisa, portanto, sua presença está lá, mas na verdade o estúdio não quer que elas façam muita coisa.
Homem-Formiga cavou a própria cova e seria cômico se não fosse trágico. Desde o começo Scott Lang é mostrado como um personagem problemático, porém com boas intenções (de boas intenções o inferno está cheio, diga-se de passagem). Assim que Hope entra em cena, ela prova de diversas maneiras que é a escolha perfeita para a missão – aliás muito melhor do que Scott jamais conseguirá ser.

Faria muito mais sentido se ela executasse a missão, pois não precisaria de treinamento algum. Ela está pronta e o único obstáculo em seu caminho é o próprio pai, Hank Pym. O Homem-Formiga original prefere passar sua tecnologia perigosíssima para um completo estranho com um passado criminoso.
Hank Pym teria seus motivos para não permitir que sua filha altamente preparada cumprisse a missão – o que resulta em outro problema do estúdio com personagens femininas: a morte de Janet van Dyne – a única mulher fundadora da versão dos quadrinhos dos Vingadores – do Universo Cinematográfico da Marvel.
A presença limitada de Janet no filme reforça o conceito de “Women in Refrigerators” (mulheres em congeladores. Pausa para uma rápida explicação:
Trata-se de um termo usado pelos fãs de quadrinhos para descrever a narrativa problemática onde uma mulher é brutalmente assassinada em prol do desenvolvimento da história de um personagem masculino. O termo também abrange toda e qualquer violência cometida contra personagens femininas, seja física, psico ou moralmente, sem que aquilo seja necessário para seu desenvolvimento como personagem.
O termo se popularicou pela internet por meio do site de mesmo nome criado por Gail Simone, em 1999. “Women in Refrigerators” é uma referência direta à revista Lanterna Verde #54, escrita por Ron Marz. Na história, Kyle Rayner chega em seu apartamento e encontra sua namorada, Alex DeWitt, morta e estocada na geladeira. Simone criou o site ao perceber que a maior parte de suas personagens favoritas eram diminuídas, estupradas e assassinadas sem um motivo específico.
Para saber mais sobre isso, leia: A desvalorização das mulheres nos quadrinhos
Essa violência desnecessária seria irritante o suficiente por conta própria, mas é empregada como uma desculpa para encurralar Hope Van Dyne dentro da chamada “Trinity Syndrome”, algo cada vez mais comum nos blockbusters modernos, onde a narrativa cria uma personagem feminina supostamente capaz e independente, com o intuito de diminuí-la ao longo da narrativa para exaltar ou motivar um personagem masculino.
Para silenciar esse tipo de crítica, muitas pessoas afirmam que “clamar por uma Janet Van Dyne compatível com o cânone seria impossível nesta altura do campeonato”. Por incrível que pareça, todas nós temos consciência e não estamos clamando por isso.
Apenas considere que uma personagem extremamente importante na história original dos Vingadores e que tem uma legião de fãs – principalmente mulheres – é finalmente introduzida no Universo Cinematográfico da Marvel apenas para ser a falecida esposa de Hank Pym. Aliás, muito pior do que isso, Janet acaba presa em outra dimensão, pode estar viva e sofrendo durante todo esse tempo.
E PIORA!
A morte ou desaparecimento de Janet Van Dyne causa a desvalorização da própria filha! Acompanhe:
- Hank Pym mente durante anos para a filha para, supostamente, protegê-la do sofrimento.
- Em vez de apoiar a menina que perdeu a mãe tragicamente, o pai se fecha completamente e deixa a menina se sentindo abandonada pela família.
- Mesmo assim ela cresce e se torna forte, inteligente e constrói uma carreira invejável sem precisar do pai ausente.
- Em vez dela ser o CEO da Pym Technologies, Hank Pym encontra um pupilo e dá mais atenção a ele do que para a própria filha, tornando-o o CEO.
- Mesmo sabendo das habilidades extraordinárias da filha, ele prefere procurar um desconhecido com passado criminoso, demorar um bom tempo treinando o segundo homem de sua vida e ensinando as técnicas das partículas Pym – coisa que Hope já sabe e demonstra várias vezes.
- No final das contas ele revela a verdade sobre a morte de Janet – que ele deveria ter revelado desde o começo – e justifica suas atitudes horríveis com a filha dizendo que “queria protegê-la”.
- Ou seja: o próprio pai recusa-se a reconhecer o quão brilhante e capaz é sua filha porque a morte da esposa despertou nele um sentimento possessivo e ao mesmo tempo ausente para com ela. Possessivo e ausente… Como pode isso?
- Na cena pós-créditos ele resolve passar o manto de Vespa para a filha e tudo que qualquer fã sensato pensa neste momento é “Por que esse filme não se chama Vespa?”.
Por isso que, como dito anteriormente, Homem-Formiga o pior filme do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) na questão da representatividade. E os anteriores não são muito melhores que isso. É realmente difícil assistir um filme do Estúdio e não se sentir desmotivada, decepcionada e frustrada com a falta de consideração a respeito das personagens femininas.
O que você acha sobre a morte de Janet Van Dyne e a desconsideração com Hope Van Dyne? Comente!
Leia também: Marvel, queremos filmes solo de heroínas e queremos já!
“Em vez dela ser o CEO da Pym Technologies, Hank Pym encontra um pupilo e dá mais atenção a ele do que para a própria filha, tornando-o o CEO.”
-What???
“O problema com Hope é que ela existe porque os produtores do filme sabiam que precisavam ter uma personagem feminina para vender ingressos para mulheres. Infelizmente a Marvel Studios e seu CEO, Kevin Feige, não entendem nada sobre a forma certa de retratar personagens femininas – como já vimos anteriormente com a falta de consideração que os filmes têm com a Viúva Negra, Maria Hill, entre outras.”
-Pensei qua a culpa disso era do Ike Perlmutter