Eden é um filme de 2014, dirigido pela diretora francesa Mia Hansen-Løve. Uma experiência incrível para quem gosta de música eletrônica.
O drama foi escrito pela diretora, que obteve ajuda de seu irmão Sven-Løve, figura importante dos movimentos french touch e garage. Baseado na carreira dele como DJ, Eden tem gosto de realidade.
O filme concorreu ao prêmio de melhor filme no Festival de San Sebastián e aborda uma das melhores épocas da música eletrônica francesa, entre os anos 1990 e 2000, falando de Cassius, Air e, é claro, Daft Punk (duo que entra em cena como pano de fundo para a história e embora não seja o foco, eles fazem parte da trama, tanto nas cenas, quanto na trilha).
A trilha sonora de Eden conta com 40 músicas originais, a maioria delas doadas (já que fica caro demais a compra dos direitos autorais). Entre as faixas inclusas, estão “Da Funk” e “One More Time“. O local dos prazeres (simbologia de Eden) aborda os sonhos de uma juventude que acreditava em seus ideais e principalmente no poder da música.
A vida de um francês apaixonado por música, Paul Vallée (Félix de Givry), que junto com o seu melhor amigo, Stan (Hugo Conzelmann), da adolescência à fase adulta, descobre a música garage, forma a dupla “Cheers” e tenta viver como DJ e produtor de eventos.
Embora Eden nos ofereça um bom panorama da cena eletrônica, o que mais importa é a trajetória de Paul Vallée e sua obsessão por trabalhar com música, produção de eventos e enriquecer. O estudante de literatura abandona tudo para se dedicar integralmente ao universo das festas e da música.
Um soco no estômago daqueles que vivem no ramo das produções, Eden é um retrato muito realista do capitalismo e da realidade. A vida de Paul é feita de muita paixão e pouca recompensa. Festas, drogas, amizades e amores fracassados, isso sem contar a falta de dinheiro.
Melancolia e euforia – uma geração retratada sem personas. Eden não esconde a realidade de quem viveu nos anos 90 e começo dos anos 2000. A era da cocaína, do ecstasy e de outras drogas, a depressão em alta, a crise econômica. Um filme que precisa ser analisado sem julgamentos. Afinal, a realidade nele abordada é outra. Esqueça celulares e se aprofunde em discos, esqueça as confirmações em eventos via Facebook e aprecie a boa e velha divulgação. Imagens coloridas, nudez sem frescuras e padrões, pistas de dança e muita música.
O único ponto negativo de Eden foi sua divulgação: erroneamente falaram que a história era sobre o duo Daft Punk (inclusive eu escrevi a matéria sobre seu lançamento de acordo com isso, peço perdão pelo vacilo), mas a trama aborda muito mais do que isso.
Um filme criticado pela sua condução apolítica, como a maioria dos fãs do cinema francês deve saber, maio de 1968 sempre é melhor abordado nas tramas. A mistura de gêneros entre documentário e ficção quebra totalmente o padrão francês de cinema e surpreende. Eden foi recomendado pela Variety e Vanity Fair, além de sites especializados em música, como o Slant Magazine e o The Playlist.
Félix de Givry, Arnaud Azoulay, Vincent Lacoste e Pauline Etienne estão no elenco dessa história. A era da música eletrônica foi recriada com maestria, mas não espere toda uma análise sociológica. Eden, acima de tudo, é uma análise sobre a cena underground europeia.
Uma homenagem aos discos, o berço musical das festas e a inovação. Eden é sobre uma geração e sobre pick-ups que mudaram para sempre o mundo da música. Um álbum de retratos bem elaborado e simples, mesmo com cenários e festas memoráveis. Um filme sobre evolução, que não foi feito para todo tipo de público.
Eden estreou no Brasil em 19 de março de 2015. Com 131 minutos o filme é uma nostalgia deliciosa, inclusive para os ouvidos.
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