Tramas que envolvem viagem no tempo são particularmente difíceis de se desenvolver. Dentre vários motivos, os mais importantes são encontrar uma forma de voltar/avançar no tempo que não soe extremamente ridícula, não deixar pontas soltas no que diz respeito às alterações do continuum espaço-tempo que as viagens causam e conseguir que isso faça sentido. Em 12 Monkeys, série criada por Travis Fickett e Terry Matalas, pode-se dizer que a produção teve êxito ao entregar uma boa história.
A série é baseada no filme “Os Doze Macacos” (1995), dirigido por Terry Gilliam. Eu já assisti outras séries baseadas em filmes anteriormente, mas este caso me surpreendeu muito. Partindo do princípio, o filme de 1995 contou uma boa história, mas teve um final decepcionante. É o tipo de filme que tem um potencial gigante, mas deixa escorrer pelo ralo. Os roteiristas do seriado, aparentemente, perceberam isso e não apenas basearam sua história no filme, como também modificaram o desenrolar dos acontecimentos, transformando uma história com final perdido em uma trama sólida e cheia de reviravoltas.
Caso você ainda não tenha assistido “Os Doze Macacos” (1995), assista e depois volte aqui, porque vou falar um pouco sobre a trama do filme (se você não se importa, bola pra frente). Imagine que um vírus devastou a humanidade, não foi possível encontrar uma cura e a humanidade decide optar por enviar uma pessoa ao passado, para eliminar o vírus antes que a epidemia comece. Essa é a premissa das duas histórias – mas a partir daí uma se torna independente da outra. O filme fez com que o público acreditasse que o vírus foi plantado por uma seita intitulada “O Exército dos 12 Macacos”, mas no final revelou que não havia nenhuma seita e que o tal “exército” se tratava de um grupo de ativistas que organizaram uma visita ao zoológico, e soltaram os animais na cidade.
A série, entretanto, resolveu levar adiante a ideia do “O Exército dos 12 Macacos” como seita/sociedade secreta, criando teorias de conspiração, mistério, crimes e uma luta contra o tempo de tirar o fôlego. Em suma, 12 Monkeys buscou os elementos jogados fora no filme e fez com que acontecessem. O resultado é extremamente satisfatório, inteligente e surpreendente.
Os personagens são baseados nos do filme. Aaron Stanford interpreta James Cole (o personagem de Bruce Willis no filme de 1995), um viajante do tempo que parte do pós-apocalíptico ano de 2043, com uma missão vital: chegar em 2015, encontrar e eliminar os responsáveis por criar um vírus que extermina 7 bilhões pessoas. Mas, embora o pessoal do futuro não saiba ainda, não é tão simples quanto parece. Não há apenas um culpado, há uma seita secreta, constituída por homens e mulheres poderosos e que está sempre um passo à frente de Cole. Existem nomes para se descobrir, lugares para procurar, mistérios para desvendar e pouco tempo para trabalhar. Mas ele não está sozinho.
A personagem aliada de Cole, no filme, se chamava Kathryn Railly (Madeleine Stowe), e a série “dividiu-a” em duas personagens – Katarina Jones (Barbara Sukowa) e Cassandra Railly (Amanda Schull).
*Pausa para explicações necessárias*
Eu assumi que a personagem aliada foi dividida por causa dos nomes das duas aliadas de Cole na série. O filme não dá muitas informações sobre quem enviou o protagonista para o futuro, é vago e não existem vínculos entre esses personagens. Já a série coloca uma aliada no futuro, que é a responsável por enviá-lo ao passado, e outra aliada no passado, que será sua companheira na missão.
Katarina é a mulher que, no futuro, encontra e envia James Cole para salvar a humanidade – uma cientista brilhante, que não sabe lidar muito bem com pessoas, guarda muitos mistérios sobre suas motivações e representa um vínculo do protagonista com o futuro. Cassandra é uma médica do passado, especialista em contenção viral, que deixa uma mensagem gravada falando sobre “O Exército dos 12 Macacos” antes de morrer. A mensagem é encontrada no futuro, e serve como ponto de partida para o personagem principal.
Embora seja complicado de convencer as pessoas sobre toda essa história de futuro apocalíptico, viagem no tempo e missão secreta, Cole encontra em Cassandra uma grande aliada. Apenas juntos eles conseguirão desvendar os mistérios por trás do Exército dos 12 Macacos, e iniciar a caçada aos responsáveis pela destruição do mundo que conhecemos. A conspiração inicia apontando para Leland Frost (Zeljko Ivanek), o CEO afluente de uma empresa de bio engenharia. E logo é mostrada Jennifer Goines (Emily Hampshire), personagem que, no filme, é um homem vivido por Brad Pitt, e nas duas adaptações é uma das chaves para a missão – de diferentes maneiras, é claro.
Enquanto o filme leva Cole e Dra. Railly para um final decepcionante, a série cria uma atmosfera que envolve cada um dos personagens e consegue passar para o público as informações necessárias – mas sem entregar nada “mastigadinho”. A cada episódio, o roteiro estimula a memória e o raciocínio do público, o que colabora para as reviravoltas dos episódios finais serem chocantes. Destaque, também, para o personagem José Ramse (Kirk Acevedo), o melhor amigo de Cole, que possui um papel mais importante no desfecho dos acontecimentos do que o esperado.
12 Monkeys traz novos rostos para uma história conhecida, e reutiliza as premissas do filme para criar o tipo de história que uma trama com viagem no tempo merece: entrelaçada, complicada, contagiante e recheada de reviravoltas inesperadas, que dão fôlego à aventura. A série já teve sua 2ª temporada garantida, e baseando-me no que o final da 1ª deixou para trás, tende a ser melhor ainda do que esta.
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