Viagem no tempo é um dos temas mais manjados da ficção científica e da cultura pop. A ideia já foi usada, reciclada e abusada diversas vezes principalmente no formato de quadrinhos que oferece muito pouca limitação para seus autores. É só o cara imaginar uma história e ter um ilustrador minimamente competente e o céu é o limite.
Neste último mês de Março chegou às bancas americanas pela Image Comics a primeira edição de Chrononauts obra do aclamado roteirista Mark Millar (Guerra Civil, Kick Ass, Kingsman – O serviço secreto) em colaboração com o artista Sean Gordon Murphy (Punk Rock Jesus, O Despertar, Vampiro Americano). A revista basicamente conta a história de dois amigos cientistas Corbin Quinn e Danny Reilly tentando ser os pioneiros na viagem no tempo.

O roteiro de Millar é extremamente simples. A história não tem nada demais e o foco acaba sendo nos dois protagonistas que ganham a audiência logo em suas primeiras aparições. A explicação para o aparato temporal é mínima e instantaneamente compreensível. O autor não perde uma página sequer detalhando fundamentos de sua versão de viagem no tempo. O foco aqui é a jornada que a viagem no tempo proporciona e não o modo como ela opera. Os diálogos em roteiros de Millar aqui mantém a tradição de carregar o roteiro mesmo que você não perceba. O autor insere sutilmente uma motivação aqui e ali enquanto você está apreciando outra coisa na cena. A primeira edição termina com um cliffhanger típico do roteirista, no qual as coisas dão muito errado para os protagonistas e isso nos dá mais do que motivo pra pegar uma segunda edição.
A arte de Sean Murphy em Chrononauts segue na mesma toada de seu trabalho em O Despertar. O rústico e o detalhado se misturam com perfeição na revista. Observe os equipamentos e objetos de cena e o cuidado com a caracterização dos elementos históricos. Isso contrasta drasticamente com o design dos personagens que é intencionalmente bem despojado, estilizado e pouco detalhado. Murphy mistura esses dois estilos com perfeição em todas as páginas, muitas vezes até no mesmo quadro. O resultado é uma arte com estilo muito característico e diferente da maioria dos artistas do mercado atualmente.
A primeira edição de Chrononauts nos apresenta uma aventura à moda antiga carregada por um roteiro extremamente batido com uma premissa das mais usadas em quadrinhos de ficção. Então por que eu deveria ler isso? Apesar de ser “feijão com arroz” a história é muito bem feita e conduzida em um ritmo que poucos conseguem fazer, os protagonistas são marcantes e te puxam pra dentro da HQ e a arte nos surpreende a cada virada de páginas. Ao final da primeira edição você não vai saber porque gostou de Chrononauts, mas vai querer ler a segunda edição. O fato é que Mark Millar é um exímio contador de histórias e nas mãos do cara até um tema desgastado em um roteiro básico se transforma em uma leitura interessante.
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