Fica cada vez mais difícil algum produto de entretenimento chegar despercebido e arrebatar a crítica e a audiência. O público é cada vez mais exigente e sedento por notícias e a internet transborda com informações sobre entretenimento e raramente alguma coisa consegue escapar do radar. Quando este tipo de coisa acontece ela merece destaque. E foi o caso com They’re not like us HQ de Eric Stephenson, Simon Gane e Jordie Bellaire.
Histórias sobre adolescentes com poderes sobre humanos infestam os quadrinhos desde que os X-Men e os Novos Titãs foram popularizados. Ao longo dos anos tivemos ótimas historias escritas girando ao redor deste conceito, mas nada ainda como este título.
Em They’re not like us temos pessoas realmente mundanas, sem as amarras morais que limitam as histórias em quadrinhos do gênero. O tema principal da HQ é: Se você é melhor que eles você pode subjugá-los. Por mais polêmico, indigesto e até reacionário que possa parecer o conceito funciona, intriga e diverte. Mérito para o autor Eric Stephenson que, se valendo da fórmula “mais é menos”, consegue tornar um elenco a princípio detestável em um grupo interessante de indivíduos com um conjunto de regras e motivações que vão se desenrolando e revelando ter certo sentido através das páginas. Os diálogos e apresentação de personagens seguem esse lance meio minimalista e o leitor é alimentado aos poucos a medida em que vão sendo reveladas as motivações individuais de cada personagem. E lá pela terceira edição você vai se pegar concordando com algumas coisas bem distorcidas e questionando seu conjunto de valores.
A arte de Simon Gane é horrorosa e linda na medida certa. Em cenas de violência e ação o ilustrador coloca fúria, raiva, asco e tudo que há de ruim na cena em cima do papel sem piedade. Enquanto nas passagens mais calmas consegue deixar a revista com um visual artístico e independente se valendo da ajuda do colorista Jordie Bellaire nessas transições de paleta. Não é definitivamente uma arte de HQ de super-herói, mas também não chega a ser um visual aterrorizante como nos gibis de terror. O traço de Gane é um misto de cru e detalhado. Mostra o que precisamos ver ali naquele quadro e dá cadência e alma a um roteiro que poderia ser retratado como “frio” por outro ilustrador.
They’re not like us foi lançada pela Image Comics em Dezembro de 2014 e não é uma HQ de super heróis. Também não é uma desconstrução de gênero. Tampouco uma sátira. A revista tem uma proposta diferente e uma abordagem bem adulta, direta e por vezes escrota do conceito de jovens com habilidades especiais, sobre ego e sobre superioridade. O autor e os artistas podem se orgulhar de revelar uma nova matiz para este tipo de história e mesmo com um elenco desprezível a princípio conseguir conquistar qualquer um que pegue as 3 primeiras edições para ler. Um título que vale a pena acompanhar daqui pra frente.
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