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Proibido Ler entrevista | Mike Deodato Jr., o renomado quadrinista brasileiro!

Deodato Taumaturgo Borges Filho já é um velho conhecido dos fãs de HQ do mundo inteiro. Sob o pseudônimo de Mike Deodato Jr., foi um dos precursores da chamada “Invasão Brasileira” nos quadrinhos mainstream americanos em meados da década de 1990. Se tornou conhecido no mercado americano e mais ainda no brasileiro em 1994, ao desenhar a Mulher-Maravilha, sendo, mais tarde, contratado pela Marvel Comics, e desenhando vários heróis conhecidos, como Os Vingadores, Thor, Hulk, além da revista mensal da Elektra, dentre muitos outros. Ao longo dos anos, o artista se estabeleceu como um dos profissionais mais competentes da área, tendo desenhado quase tudo que é possível dentro da Marvel e muitas coisas na DC Comics, entre outras editoras. Em 2014 Deodato recebeu o convite para uma colaboração com o roteirista Jason Aaron no mega evento de verão da Marvel Comics chamado “Original Sin”. Aqui, Deodato conta, em entrevista, como foi trabalhar neste projeto além de seus planos para o futuro e curiosidades.

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A Mulher-Maravilha de Mike Deodato Jr.

PROIBIDO LER: A Marvel já descreveu bem nos previews a premissa de Original Sin, mas para você do que se trata a história? Como ela foi apresentada a você pelo autor?

Deodato: A sinopse era a morte do Vigia. Uma história policial dentro do Universo Marvel, onde os personagens tentam descobrir quem é o assassino. Seria uma HQ onde eu poderia usar um estilo mais cheio de sombras. Era escrita por Jason Aaron, com o qual eu já havia trabalhado em uma história de basketball. Me perguntaram se eu estava afim e eu pensei: “Um evento!” Eu nunca participei de um evento da Marvel porque acho que, como sou bom em prazos, era mais cômodo para a Marvel me manter em revistas mensais do que me colocar em um evento. Um evento você pode entregar o roteiro ao desenhista vários meses antes, embora no meu caso tenha sido um pouco diferente.

PL: Qual a diferença entre um trabalho em um título mensal e um evento grande e fechado como Original Sin para o ilustrador?

Deodato: Nos anos 1990 nós tínhamos 4 meses de antecedência para fazer uma revista. Atualmente, no último número de Original Sin, eu tive 30 dias para fazer sem estourar o prazo. Eles já estavam meio que conformados que este último número atrasaria uma semana, mas pelo menos seria o mesmo desenhista do começo ao fim. Só que eu não queria que atrasasse, porque é o meu nome na capa, eu tenho a fama de ser rápido e cumprir os prazos, e todos iriam pensar “Olha aí, o Deodato atrasou”. Então, fiz um esforço no desenho e arte final e consegui cumprir o prazo. Mas foi bem legal. Eu adorei.

PL: Qual a característica mais marcante no método de trabalho com Jason Aaron, em comparação aos outros roteiristas que você já trabalhou?

Deodato: O método é o mesmo dos outros. Como ele já tinha trabalhado comigo antes, já tinha confiança em mim e não houve interferência no trabalho. (A diferença) é mais em relação à história, mesmo. O jeito que ele escreve é diferente. Por exemplo, Alan Moore, quando pegou um personagem meio “ridículo” como Miracleman… Digo, ridículo antes, né? Na versão original… O objetivo dele (Moore) foi transformar aquilo em uma coisa completamente real e ficou assustador. Já o Aaron não tenta se distanciar da essência do personagem. Se o cara é ridículo, ele retrata como ridículo mesmo. Ele não tenta esconder que o cara é ridículo. Ele coloca isso na história mesmo. O personagem é ridículo e viva com isso. Achei bacana esse jeito dele lidar com os personagens. De resto eu só fiquei sabendo quem era o assassino no último roteiro mesmo. Eu fiz questão de não saber, justamente porque vai que vaza alguma coisa? Aí eu entraria na lista de suspeitos. (Risos)

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Quem assassinou o vigia é o grande mistério da saga Original Sin.

PL: Teriam que fazer uma outra investigação… (Risos)

Deodato: É. Não, eu prefiro não saber. Não me diga nada. Eu sou “bocão”, mesmo (Risos). Mas foi muito bom trabalhar com o Jason. Ele é bem relax e não tive problema nenhum.

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O Hulk de Mike Deodato Jr.

PL: Você prefere trabalhar com elencos grandes como em Original Sin ou com elencos menores?

Deodato: Eu prefiro um elenco de “um”. No máximo um bandido brigando com o cara. (Risos) É mais fácil. Você consegue caprichar mais em todo o resto. Aumentando a quantidade de personagens, você vai ter que dar o mesmo tratamento que daria a um personagem só, que a todos eles. O esforço que você colocaria se multiplica pela quantidade de personagens. Eu não sou de enrolar ou esconder (os personagens) atrás de alguma coisa. Eu faço mesmo. Então, pra mim, o ideal é uma história solo. Wolverine, Hulk… Porque aí eu consigo extrair mais de mim do que fazendo um monte de personagens. Mas por algum motivo eles (a Marvel) acham que eu sou bom fazendo muitos personagens (Risos). Mas enfim, eu gosto. Só avisei a Marvel que minha vontade é de trabalhar em alguma HQ solo, de um personagem solo. Ou voltar com o Aranha, o Hulk ou esse Thor novo que não é digno (do Mjölnir), o Unworthy… Qualquer um desses eu ia ficar satisfeito, mas depende da situação que eles tem lá na Marvel. Não depende da minha vontade. Se eles pagam pela minha exclusividade, eu prefiro estar à disposição para que eles me coloquem para desenhar onde eles acharem melhor.

PL: Em Original Sin existem alguns recursos de narrativa visual bem ousados em termos de enquadramento de página. De onde veio a ideia desse formato?

Deodato: Eu queria trazer algo diferente, tendo em vista que este era o meu primeiro evento na Marvel. Eu fiquei muito animado pelo fato de (Original Sin) ser um saga muito importante este ano para a editora, e queria que a arte fosse marcante. Eu já vinha experimentando com layout de página há alguns anos, mas nada assim. Então, eu escolhi este tipo de visual e saí recortando toda a página, como se fosse um quebra-cabeças, justamente pra dar a ideia de que havia um quebra-cabeças a ser resolvido ali, um crime. Aquilo ali na verdade é uma mistura do que eu já vi muitas vezes o (Jim) Steranko usando, botando aquelas linhas cruzando a página, geralmente era algum efeito de tiro cruzando a página e fazendo este efeito gráfico. Mark Buckingham usou também isso naquela história “Morte” (“o grande momento da vida” de Neil Gaiman)… Ele usava um efeito em que cada quadro tinha um “requadro” em volta e os quadros continuavam e cortavam a página. Não é exatamente o que eu fiz (Em Original Sin), mas aquilo me inspirou.

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O novo visual que Mike Deodato Jr. está usando em Original Sin.

O que eu faço é: escolho um desenho grande pra ser o mais importante da página e deixo como pano de fundo da página inteira. Depois, eu vou distribuindo os outros quadros e, em seguida, eu estico as linhas de cada quadro na página toda. Aí vou retirando o que não funciona ou que esteja cruzando por cima de personagens e depois disso eu vou arrancando pedaços (do desenho) onde as linhas se cruzam para equilibrar a parte clara e a escura. Então eu vou tirando, experimentando e vendo como ficou até eu ficar satisfeito com o equilíbrio da página entre preto e branco. É a primeira vez que eu trago alguma coisa deste tipo e inteiramente minha, que não tinha visto ninguém usar ainda. Deu para experimentar bastante em Original Sin, pois tenho total confiança do Tom Brevoort e do autor pra fazer este tipo de coisa. Em Vingadores, atualmente, não estou usando esta técnica justamente para deixar ela marcante e exclusiva em Original Sin, por enquanto.

PL: Você escuta música ao desenhar? Que tipo?

Deodato: Sim. Geralmente é rock. Eu tenho uma playlist no Blip Fm que geralmente toca rock nacional e internacional, mas eu escuto de tudo dentro do meu gosto pessoal.

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Mike Deodato Jr. e Stan Lee.

PL: Existe algum personagem que voce não tenha desenhado e gostaria de trabalhar na Marvel? E em outras editoras? Eu particularmente gostaria de ver você de volta ao Hulk ou em um título solo do Ka-Zar…

Deodato: Ka-Zar… Ka-Zar seria legal, mas é a tal questão do orçamento que eles tem para a revista. A revista tem que vender bem para justificar o salário do pessoal que está envolvido naquele título. Para Ka-Zar vender bem, seria complicado. Você teria que colocar um Warren Ellis… E mesmo o Warren Ellis em “Moon Knight” não está vendendo muito bem, apesar de estar genial, é claro. Ou então, neste caso, se conformar que o título seria só para crítica mesmo. Mas Ka-Zar seria ótimo… Pensando aqui, da Marvel, eu gostaria de desenhar o Quarteto Fantástico, que nunca desenhei, mas com a formação original porque eu tenho desenhado alguns membros nos Vingadores. Em outras editoras, bom… Na DC gostaria de desenhar Jonah Hex, Morcego-Humano, seria ótimo desenhar o Batman de novo e o Super-Homem. Aí, de resto, eu gostaria de desenhar uma história de Tex, Príncipe Valente, Conan seria muito legal também, mas é só sonho… Ou vai que a Disney compra isso tudo aí? Quem sabe? (Risos) Star Wars seria bem legal e, na verdade, eu já desenhei uma história de Guerra nas estrelas. Fiz uma história curta de oito páginas sobre o Boba Fett em “Dark Horse Presents”, escrita pelo Beau Smith, que era da Image Comics. Foi bem bacana fazer.

PL: Existe algum roteirista com quem você ainda gostaria de trabalhar?

Deodato: Frank Miller, Alan Moore e Neil Gaiman… Ou seja, nunca vou conseguir (Risos). Mas também há os mais acessíveis de trabalhar como o Brian Azzarello, o Grant Morrison, Warren Ellis novamente, mas vamos ver.

PL: No que voProibido Ler entrevista | Mike Deodato Jr., o renomado quadrinista brasileiro!cê está trabalhando agora?

Deodato: Estou fazendo Vingadores 37. Capa e interiores.

PL: Quais são os próximos projetos?

Deodato: Por enquanto ficarei em Vingadores, mas minha preferência é por um título de um personagem solo em seguida. Wolverine, Aranha ou Hulk. Talvez haja alguma coisa planejada nessa linha pro futuro, mas ninguém me disse nada ainda.

PL: Você tem tempo de ler HQs? Cite algum trabalho legal que você leu atualmente.

Deodato: Quase não tenho tempo. Eu peguei agora “Y: The last man” (De Brian K. Vaughan) . Li o primeiro número e achei espetacular. Prefiro ler alguma coisa que não seja do gênero “Super-Herói”, pois eu já trabalho e consumo isso diariamente na Marvel. Se eu ficar lendo isso no meu tempo livre eu não tenho como evoluir em termos criativos. Eu tenho que absorver outro tipo de informação. Então, prefiro alguma coisa diferente. A última coisa que lembro ter lido completa foi “O que aconteceu ao homem mais rápido do mundo” (De Dave West e Marleen Lowe). Eu assisto muitas séries. Geralmente as temporadas mais atuais. “Suits”, que tem um diálogo afiadíssimo. Estou assistindo “Hell on Wheels” pra matar as saudades de “Deadwood”, que tem umas coisas boas e ruins. Estou assistindo “Masters of Sex” que tem umas coisas interessantes. Eu assisto um monte. Tem umas que vejo um episódio e não assisto nunca mais. (Risos)

PL: Eu lembro que li em algum lugar que você é um praticante de artes marciais? Qual a influência e o benefício do esporte no seu método de trabalho?

Deodato: Pra mim, foi o foco. A concentração. O que a gente chama no Karatê de “o espírito”. Você não baixa a cabeça, você enfrenta tudo. Eu recebi muito “Não” em minha carreira, mesmo depois que eu me consagrei. Então o foco, a concentração, o espírito, isso tudo veio das artes marciais e me ajudou muito.

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Mulher-Hulk de Mike Deodato Jr.

PL: Depois de tantos anos no mercado de quadrinhos, qual o segredo para cumprir os prazos mantendo um nível altíssimo de qualidade nos desenhos?

Deodato: O que eu fiz agora foi mudar para digital para acompanhar o ritmo de hoje em dia. Eu fiquei 3 vezes mais rápido trabalhando digitalmente. O ruim é que você não tem o original para vender para colecionadores e existe um mercado grande para isso, mas eu continuo fazendo capas no papel. E digital é muito bom, pois eu gosto muito de tecnologia e posso experimentar coisas novas com Photoshop… Se alguma coisa dá errado, eu posso voltar, ou usar o “Liquify” pra mudar a forma como eu tinha feito sem precisar desenhar tudo de novo. Então, existe um monte de recursos que tornam você mais rápido e é uma experiência diferente. É como você usar um pincel, caneta, pena tudo ao mesmo tempo. Trabalhar com o lápis na mesa digital sempre dá um resultado diferente. Fora isso, é responsabilidade mesmo. Você sabe que tem que cumprir aquele prazo, então você não vai ficar por aí… E eu gosto do que eu faço, então eu fico na prancheta sem reclamar. Esse é um negócio que eu gosto de fazer. E é isso. É só mandar brasa.

(Louise aqui) E assim, se encerrou a primeira de muitas entrevistas exclusivas do Proibido Ler com um profissional renomado no mundo dos quadrinhos. Agradecemos ao Mike Deodato por nos conceder a entrevista, e ao nosso colunista Igor Tavares, pelo excelente trabalho!

Veja algumas edições com a assinatura de Deodato dentro da DC e Marvel:

DC Comics: Batman #570, Detective Comics #736, Legends of the Dark Knight #119 e #120, Flash (vol. 2), Wonder Woman (vol. 2) #85, 90-100 e Batgirl Annual #01

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Coringa e Arlequina, por Mike Deodato Jr.

Marvel Comics: “4” #18 (capa), Amazing Spider-Man #509-528, Os Vingadores #384-402, Pantera Negra (vol. 3) #11-12, 23 (capa), Bullseye: Greatest Hits #1-5 (capa), Elektra #1-19, Fury: Peace Maker #1 (capa), Hulk (vol. 3) #60-74, Marvel Comics Presents #3, Moon Knight (vol. 2) #20, New Avengers #17-20, New Avengers V2 #9 e #10 (série em andamento), Secret Avengers #1-10, Punisher: War Journal #4, Punisher: Silent Night (one-shot), Mulher-Hulk (vol.) #22-23, 27-28 (capa), Spider-Man: Breakout #1-3, The Last Defenders #2, Thor #491-502, Thunderbolts #110-121, Tigra #1-4, Os Supremos Anual #2, Witches #1, X-Men Legacy #212, X-Men Unlimited #32, Wolverine – Roar (edição única) e Dark Avengers #1-16

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A Marvel, por Mike Deodato Jr.

Veja mais entrevistas exclusivas: Proibido Ler Entrevista

Escrito por Igor Tavares

Carioca do Penhão. HQ e Videogames desde 1988. Bateria desde 1996. Figuras de ação desde 1997. Impropérios aleatórios desde 1983.

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